segunda-feira, dezembro 26, 2005

luz negra

tenho todas as respostas.
continuo, no entanto, sem saber onde me dói a coluna ou onde me custa dizer-to
porque tenho tudo numa mão e, ainda assim, parece-me estranho que não o saibas ou não me digas como me dói o corpo ou onde me dói o sangue.
sei tudo de tudo um pouco menos de mim e do que fica de mim na roupa espalhada e nos papéis.
na tua pele espalhada em mim e nos papéis que a escreve.
as palavras são fáceis mais fáceis que perceber o modo como ando ou o tom da minha voz e a maneira como digo

joão

joãojoãojoãojoão este nome enche-me de coisas sem som e coisas sem cheiro e coisas que não são o teu corpo espalhado na minha roupa e nos papéis e no meu sangue onde me dói, onde me dóis no meu sangue e como me custa dizer-te com a minha voz que realmente não conheço.

nunca me vi a não ser num pouco de vidro.

sabes que falo como falo do que falo mesmo que me engasgue ao rir
engasgo-me ao falar
engasgo-me ao amar
engasgo-me ao pensar
e de mim sei tão pouco como o pouco que apenas vejo de mim, às vezes num espelho às vezes em ti ou na roupa ou nas horas que passam e na madrugada que cresce e morre e queria dizer-te deste meu modo surdo e lento e absurdo

dizer-te qualquer coisa como o sol.

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei muito :-)

Anónimo disse...

mas...tu és o §ol. *