quinta-feira, janeiro 26, 2006

POESIA & MÚSICA


Poemas de:
Rimbaud
Vasco Gato
Alexandre O'Neill
Joaquim Pessoa
Walt Whitman
Vinicius de Moraes
Brecht
José Gomes Ferreira
Cesário Verde

Música:
Sanamunda



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quinta-feira, janeiro 19, 2006

Sujidade de luzes sem filamento

no silêncio, querido
através das madressilvas
através dos olhos
contámos segredos de sangue um ao outro
através das sombras que cortam como madressilvas
nas casas abandonadas por entre sombras
e madressilvas
contámos segredos e descompusémos lençóis
e perguntámos
para onde dão certas portas
para onde dão certos corredores
meu amor
meu querido
através da noite queimámos madressilvas
para afugentar as sombras e bebemos
amargos e sem sede
o sangue que me escorria das pernas.
meu querido, sanguínea forma que me conta
histórias quando anoitece,
embala as minhas pestanas e os meus olhos por dentro da noite
e descobre-me por entre as ruínas das cidades.
tudo em volta ardeu, meu amor,
meu querido,
não me restam mais anéis nem mais dedos
para pôr anéis
não me restam mais sombras
só segredos, meu querido,
prontos a cortar as sombras como se madressilvas.

prontos a atravessar o mar nas tuas costas enquanto me abraças.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Diorama

Desses lábios que rasgamos sem cuidado,
Flui a sede asceta do meu medo,
Entre as pontas afiadas desses dedos,
Minha pele tem pedaços descascados.
O desprezo escorrendo pelos poros,
A Solidão enternecida é puta prática,
O desejo é ilusão, é emoção atávica,
E os fungos cobrem a casa onde eu moro.
Desses corpos que se fecham lentamente,
Sai a cruz por onde a vida se desestrutura,
O amor é um sofisma, uma miniatura
De algo que se pretendia útil e permanente.
Se há beijos, e paixão, há perda e há mentira,
O que a vida nos permite, Deus nos logra e tira.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Alportel

Há algum desespero nesta morte. Desespero sem som e sem ritmos alterados. É como adormecer um dia numa cama fria e sem esperança. É como se me esquecesse que no corpo tenho fumo e que esse não é o mesmo fumo que ainda transpiras. Quero viver na tua casca morta. Porque a tua morte é mais real e a tua fraqueza e cinza não têm a hipocrisia do cimento.

subversão domínio e algum sado-masoquismo

pelo chão de lítio mamã segue pelo chão de lítio de tons azulados
digo-te enquanto avanças pelas pontes destruídas e nelas plantas o feno
da solidão, a aridez ténue dos abraços vazios de corpos no seu âmago,
o ocaso das aranhas nos vãos das escadas,
os patamares das portas que dão para os quintais onde enterraram
enfim os corpos azuis dos bombeiros.

procuro fotografias mamã no chão azul de lítio onde enterraram bombeiros
soldados da paz mamã olha os soldados da paz enterrados no quintal.

avanças pelas pontes destruídas e plantas uma semente, um oócito, um óvulo, um ovário
o mundo um útero de gasolina e de betão e os prédios uma incubadora de galinhas
com óculos fatos de tweed gravatas pastas sob as axilas
mamã os senhores galinhas enterrando soldados da paz sem sorrisos já
no chão levemente azulado de lítio no quintal...

mamã o céu da boca rebenta-me de uma dor aguda nas noites
de lítio esquecido no chão do quintal por entre cabeças redondas e inchadas
dos cadáveres dos bombeiros que destruíram todas as pontes no dia do juízo final.

mamã eu juro que não tomei nada.

terça-feira, janeiro 03, 2006

das mentiras. das verdades e tudo de novo.


e é assim.
sempre.


o hábito a tocar-nos os dedos

e

a julgar-nos como mais uns escultores
de palavras brutas.

reformulo:

e não é assim.
nunca.

por hoje,
as palavras são bestas.

e

bastam-me deste modo.