Há o fogo, e sua ausência eu li nas cartas,
Há o retrato empoeirado sobre a mesa,
A cabeceira das coisas
Nunca é diferente do que eu pensei,
É tudo paciência, é prece, é jogo, eu sei,
Dói feito carne sob as unhas,
Que me atravessam fazendo surpresa,
Rasgando cartas,
Triturando as lembranças de sua letra desenhada,
Letra de mulher, oca e encarrilhada,
Amontoado de coisas.
É tudo um atropelo, um entalo, e nunca sai,
Então seu nome me embaraça enquanto cai,
É pestilência, beijo ardente, mãe e pai,
Cutículas e coisas de mulher.
Há um lugar no espaço onde a mulher se localiza,
Quem sabe uma carta perfumada me saiba ler.
Agora me extravasa, preguiçosa, a brisa,
Também raquéis, marias, lias,
Rondando os pés da mesa,
Passando feito foto, cortando feito carta,
Eu nunca lembro a oração que é certa,
É sempre diferente e eu não notei.
É tudo indiferença, é logro, é outra vez,
Deus ainda insiste em me aparar as unhas,
Pr’eu não arranhar o Filho por detrás da barba.
Eu sigo descascando minha pele até sangrar,
Sigo dormindo cedo, sentindo muito medo,
E quando chove, seu nome cai do céu...
quarta-feira, julho 05, 2006
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10 comentários:
O céu também chora de alegria em lindas manhãs de chuva... quando contamos os dias e as horas...
Oi!
Muito bom!
"Eu sigo descascando a minha pele sem sangrar":
Talvez à procura de um outro que em mim há. Belo blog, poesia sublime.
Quem escreve assim a dor nua mostra a seus pares que não estão sós.
ola como faço para falar com CELSO BOAVENTURA ? ? ?
edgardjunior2@hotmail.com
Adorei, Maria Rocha. Está lindo e sólido.
Obrigado
Até sempre: david-santos
Muito bom!
O movimento vv5-10 está fantástico - aliás, como toda a música deste poema: mas, como leitor, é aí que me prendo.
um abraço, Hugo
Gostei imenso.
Um fantastica "ginastica" de palavras em movimentos bonitos.
Voltarei mais vezes.
Muito bonito, muito bem feito, parabéns.
Poemaço, Celso!!
Estou louco, ou lembro que que você tinha um blog só seu??
Abs,
REMO.
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