domingo, fevereiro 12, 2006

Vida Besta

Não há nada, só o cheiro de amoníaco,
O ar de faxina na casa, não há mais pó aqui,
Não há nada, nada, só o seu olhar demoníaco,
Seu jeito estranho de andar procurando por mim.
E quando passa um carro novo anunciado na tevê,
Eu tento associar a propaganda e o prazer.
Só volta o cheiro forte e detergente,
Como se as baratas já pudessem nos pegar,
Na volta não há nada além do banho em jatos quentes,
Sua língua enfraquecida, em vão tentando me afogar.
Enquanto a lua é reciclada em quartos de aluguel,
Indefinida e simples, derivando em outro céu.
Não foi nada, só me arde os olhos o brilho da limpeza,
O aspecto de coisa que não se deve mais mexer,
Não foi nada, nada, só esse leite cru, tristeza,
Sua fome desses pratos que eu nem quero conhecer.
No entanto do seu rosto verte sangue, colorido,
No entanto eu sempre sou tão distraído.
Já lhe disse, não há nada, só esse cheiro insuportável,
E tudo me incomoda, eu sei, não posso disfarçar,
É tolice dar às coisas um sabor mais agradável,
Já que de toda maneira vou morrer noutro lugar.
E quando a rua se ilumina eu só penso na cachaça,
Lembro e esqueço de você, caio na cama e acho graça.

2 comentários:

Unattached disse...

O "nada" tantas vezes referido...é o novo bébé e orgulho da poesia pós moderna...ainda assim gostei bastante. :)

fica bem

delusions disse...

mt actual e mt bem escrito...gostei mt. fica bem*