terça-feira, janeiro 10, 2006

subversão domínio e algum sado-masoquismo

pelo chão de lítio mamã segue pelo chão de lítio de tons azulados
digo-te enquanto avanças pelas pontes destruídas e nelas plantas o feno
da solidão, a aridez ténue dos abraços vazios de corpos no seu âmago,
o ocaso das aranhas nos vãos das escadas,
os patamares das portas que dão para os quintais onde enterraram
enfim os corpos azuis dos bombeiros.

procuro fotografias mamã no chão azul de lítio onde enterraram bombeiros
soldados da paz mamã olha os soldados da paz enterrados no quintal.

avanças pelas pontes destruídas e plantas uma semente, um oócito, um óvulo, um ovário
o mundo um útero de gasolina e de betão e os prédios uma incubadora de galinhas
com óculos fatos de tweed gravatas pastas sob as axilas
mamã os senhores galinhas enterrando soldados da paz sem sorrisos já
no chão levemente azulado de lítio no quintal...

mamã o céu da boca rebenta-me de uma dor aguda nas noites
de lítio esquecido no chão do quintal por entre cabeças redondas e inchadas
dos cadáveres dos bombeiros que destruíram todas as pontes no dia do juízo final.

mamã eu juro que não tomei nada.

3 comentários:

Anónimo disse...

ótimo texto, dor e angústia escritas de forma primorosa.

saudações

João Silveira disse...

nem sei o que te dizer, nunca o sei mas estou sem palavras ou sem as palavras certas.
está fabuloso.
tão mas tão bom que nos tira o chão.

um abraço

Cláudio B. Carlos disse...

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