De um dourado enegrecido a tez se veste,
Princípio e reentrância,
E o verde nauseabundo dos ciprestes,
Perfeitos à distância.
Composta esta paisagem de uma febre intermitente,
O artífice destila um riso frágil,
São as tintas derramadas sobre as almas,
De soldados sucumbidos, chamas alvas.
Era um quadro de Degas, um pranto ácido,
As paredes recorrentes,
E as entradas dos teus poros, e o mormaço,
Tão mais alto, tão mais quente.
Desfeita à tua imagem, uma deusa sem pujança,
Essas asas enrugadas caem fácil,
E eis que o céu não te permite convidar-nos,
Ao painel frio que representa o teu escárnio.
este é o primeiro poema meu n'A Caixa. Participar deste blog é honra e prazer. Espero manter o padrão.
terça-feira, dezembro 27, 2005
segunda-feira, dezembro 26, 2005
luz negra
tenho todas as respostas.
continuo, no entanto, sem saber onde me dói a coluna ou onde me custa dizer-to
porque tenho tudo numa mão e, ainda assim, parece-me estranho que não o saibas ou não me digas como me dói o corpo ou onde me dói o sangue.
sei tudo de tudo um pouco menos de mim e do que fica de mim na roupa espalhada e nos papéis.
na tua pele espalhada em mim e nos papéis que a escreve.
as palavras são fáceis mais fáceis que perceber o modo como ando ou o tom da minha voz e a maneira como digo
joão
joãojoãojoãojoão este nome enche-me de coisas sem som e coisas sem cheiro e coisas que não são o teu corpo espalhado na minha roupa e nos papéis e no meu sangue onde me dói, onde me dóis no meu sangue e como me custa dizer-te com a minha voz que realmente não conheço.
nunca me vi a não ser num pouco de vidro.
sabes que falo como falo do que falo mesmo que me engasgue ao rir
engasgo-me ao falar
engasgo-me ao amar
engasgo-me ao pensar
e de mim sei tão pouco como o pouco que apenas vejo de mim, às vezes num espelho às vezes em ti ou na roupa ou nas horas que passam e na madrugada que cresce e morre e queria dizer-te deste meu modo surdo e lento e absurdo
dizer-te qualquer coisa como o sol.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Marfim e o sonho absoluto dos caçadores furtivos
recolho os olhos, assim, tal qual tos apresento, e fecho a televisão no mesmo canal de sempre
e adormecemos com o som do meio da noite,
esse som lacustre de umbigos e de incertezas e a meio da noite
a televisão acende-se nos olhos e sonhamos savanas
e o teu corpo está frio junto ao meu,
ambos palavras perdidas junto aos candeeiros e aos pégasos
de louça à entrada de casa, assim, de mau gosto e de baixo
tom, temos tão mau gosto para decoração e tudo à nossa volta
arde, deixa arder, assim, como sempre,
e os olhos acendem a televisão a meio da noite e perguntam
coisas como caracóis.
e adormecemos com o som do meio da noite,
esse som lacustre de umbigos e de incertezas e a meio da noite
a televisão acende-se nos olhos e sonhamos savanas
e o teu corpo está frio junto ao meu,
ambos palavras perdidas junto aos candeeiros e aos pégasos
de louça à entrada de casa, assim, de mau gosto e de baixo
tom, temos tão mau gosto para decoração e tudo à nossa volta
arde, deixa arder, assim, como sempre,
e os olhos acendem a televisão a meio da noite e perguntam
coisas como caracóis.
sábado, dezembro 10, 2005
lake in resorts
e se me roubas mais um dia
se a mim me basta
uma caneta bic
preta-uma-caneta
no bafo das horas
uma folha
morta-a-folha-de-ontem
no jornal de amanhã
limpo às 6 horas
no céu granítico da tua boca.
vamos.
incendiar as ruas.
se a mim me basta
uma caneta bic
preta-uma-caneta
no bafo das horas
uma folha
morta-a-folha-de-ontem
no jornal de amanhã
limpo às 6 horas
no céu granítico da tua boca.
vamos.
incendiar as ruas.
sexta-feira, dezembro 09, 2005
Cromeleque
olho pelo corpo alheio sem encontrar um sítio
em mim
onde o guardar e então repouso
as mãos e os pés em frente
à televisão e lá fora chove
cá dentro não, etc.
esse tipo de analogias
mas faz frio e o corpo alheio
deve senti-lo
tanto quanto eu.
em mim
onde o guardar e então repouso
as mãos e os pés em frente
à televisão e lá fora chove
cá dentro não, etc.
esse tipo de analogias
mas faz frio e o corpo alheio
deve senti-lo
tanto quanto eu.
quinta-feira, dezembro 08, 2005
(dos amigos. para os amigos)
- Outro dia vi-te.
- Eu também…
(silêncio)
- E… como estás?
- Diz-me tu.
(ambos descem os olhos; respiram fundo… e tossem gravemente)
- Estás doente?
- E tu?
- E não somos todos?
- Queres falar?
- Até falava se o nó não apertasse tanto.
- Entendo.
(os olhos encontram-se novamente e sorriem)
- Obrigada por me ouvires.
- Mas tu não falaste…
- Tu sabes.
- Sei.
(despedem-se com um par de beijos e aos ouvidos trocam algumas palavras)
- Sente o céu a quebrar.
-“O mundo é apenas uma bola sem sentido suspensa no vazio.”
(cada um segue o macadame negro da calçada enquanto vão julgando guardar o maior segredo de todos e que nunca fez questão de se esconder dos olhos de ninguém. o mundo.)
- Eu também…
(silêncio)
- E… como estás?
- Diz-me tu.
(ambos descem os olhos; respiram fundo… e tossem gravemente)
- Estás doente?
- E tu?
- E não somos todos?
- Queres falar?
- Até falava se o nó não apertasse tanto.
- Entendo.
(os olhos encontram-se novamente e sorriem)
- Obrigada por me ouvires.
- Mas tu não falaste…
- Tu sabes.
- Sei.
(despedem-se com um par de beijos e aos ouvidos trocam algumas palavras)
- Sente o céu a quebrar.
-“O mundo é apenas uma bola sem sentido suspensa no vazio.”
(cada um segue o macadame negro da calçada enquanto vão julgando guardar o maior segredo de todos e que nunca fez questão de se esconder dos olhos de ninguém. o mundo.)
quarta-feira, dezembro 07, 2005
terça-feira, dezembro 06, 2005
segunda-feira, dezembro 05, 2005
Corporate Living #1
Que horas são? Cedo, o autocarro é uma coisa podre de metais e plásticos e borrachas e chia nas curvas, ao longe, comigo na praça, em frente do prédio alto e velho, os miúdos acenam-me com os dedos e dirigem-me alguns impropérios, a mim e ao meu fato e à minha mala, alguns olham-me de lado e julgo saber lâminas naqueles bolsos, outros fumam drogas e bebem, mais longe, e o que me chega desses é uma certa conversa despropositada acerca de não sermos nada e de como nossa senhora é tão mas tão bonita e boa na cama. Ajeito a gravata e entro no prédio e dentro do prédio fecho o chapéu de chuva sujo de lixo e de pó e de cuspo e de ranho e fecho a porta a tempo de me livrar de levar com um pacote de leite que presumo estar já podre, enquanto um ou dois miúdos acenam coisas nas mãos e me fazem caretas. Quase todos fazem graffitis nas paredes do prédio, como se a podridão algum dia fizesse com que tudo isto ruísse. Fechámos o acesso directo do prédio à cave porque eles se infiltraram por lá, como ratos. Digamos que são como ratos, a rondar o edifício todos os dias a todas as horas, a roer e a macular as fundações do edifício todos os dias, a todas as horas, querendo o edifício para eles, os dez andares de compartimentos e cubículos para beatas de cigarros e preservativos e alguns intestinos e restos de cérebros aqui e ali.
À entrada pico o cartão e olho para o detector de impressão ocular, um tanto obsoleto, tudo, já, e a máquina responde-me num tom mecânico e impessoal que posso subir, e que hoje posso descansar mais, não há nada de mais para fazer que não seja dobrar papéis e digitar uns textos e umas actas e umas circulares, verificar as acções e pouco mais que isso. O meu escritório é no oitavo andar, virado para a praceta onde os miúdos deitam fora os dias, olhando com raiva para nós e para os nossos fatos brancos e azuis e cremes e pretos e cinzentos e as nossas gravatas cremes e brancas e pretas e azuis e cinzentas e as nossas camisas brancas e cremes e azuis e cinzentas e pretas e os nossos sapatos pretos ou castanhos ou azuis ou cremes ou brancos ou cinzentos mas maioritariamente castanhos e pretos (pretos geralmente polidos e brilhantes). O prédio foi construído com vidros à prova de bala e há vestígios de tiros factuais maioritariamente no segundo e terceiro andares.
Apesar de tudo, o prédio é velho. Chamo o segundo elevador, de entre os dez disponíveis, e demora cerca de dois minutos a chegar, rangendo portas de aço inoxidável contra paredes de aço inoxidável forradas a uma coisa que parece lã. Das doze músicas possíveis, escolho a sétima, uma versão de uma coisa que parece vagamente Autumn Leaves, de Miles Davis e John Coltrane. A viagem demora por volta de quatro minutos. Quatro minutos dá para ouvir a música quase até ao fim. As portas apitam, invariavelmente "chegou ao seu andar. Obrigado, bom dia, até logo!", saio do elevador e atravesso o corredor, cumprimentando uns ou outros, ocasionalmente, pelo menos. Óscar 324 está na cozinha do andar, nu, com um blazer cinzento, um par de meias cinzentas e um avental plástico amarelo, de cozinha, a fritar qualquer coisa, com as nádegas sujas de farinha. Mariana 86 está sentada num banco, ao lado da mesa, nua, com um par de meias de lycra até à coxa, a fumar um cigarro. Ouço-os falarem de mim mas só de repente, e sigo ao longo do corredor. Dez escritórios, até ao meu. Ao longo do corredor, algumas faíscas inesperadas saltam dos aparelhos de segurança e do alarme de incêndios, embora nos garantam que tudo funciona na perfeição. As luzes funcionam perfeitamente, e há janelas q.b., para uma iluminação natural e reconfortante. Tomás 631 está no seu escritório, e entro para o cumprimentar. Em cima da secretária, um estojo aberto, e nas vitrinas ao longo das paredes armas diversas, rigorosamente aprumadas. A janela está aberta e ouço qualquer coisa abafada que se assemelha a gritos ténues. "Hoje está fraco. Só consegui sete, escapou-me agora um...", diz-me 631, apertando-me a mão, e colocando a caçadeira furtiva sobre a mesa. Olho pela janela e avisto quatro dos sete corpos espalhados ao longo da praça, e outro que foge, agarrado a uma perna, o mais rápido possível. Assim que 631 pega na arma novamente e ajeita o cabelo com a mão, ouço um som abafado e o corpo que fugia agarrado a uma perna fica-se por ali, ao pé de um caixote do lixo e de uma sebe. Não há ninguém para os vir buscar. Não sabemos se têm família, ou não. "É mais engraçado quando faço com as pistolas. Eles assustam-se mais, mas sabem que a precisão não é tanta. Com as caçadeiras normais, então, chego a arrancar membros a alguns, em dias mais felizes." As equipas do lixo, quando fecharmos as portas do prédio, tentarão levar os corpos que conseguirem ver, os outros acabarão por ser queimados. Só Tomás 631 chega a conseguir uma média de quinze ou dezasseis, por dia.
No meu escritório não há armas. Apenas uma secretária e um suporte fotográfico de hologramas, onde tenho digitalizações de fotografias de familiares e de locais que me reconfortam, como a luz que entra pelas janelas cuidadosamente colocadas por algum arquitecto sueco. O meu escritório é mais um gabinete que um escritório e não cheira a pinho nem a incenso nem a latex nem a exsodados vaginais nem a sémen nem a merda nem a sangue nem a sabão azul e branco, cheira apenas ao que cheirava quando vim trabalhar para aqui.
Fecho a porta antes de ouvir Óscar 324 a convidar Mariana 86 para mais uma queca na mesa da cozinha, e Tomás 631 grita, provavelmente ajeitando o cabelo, que conseguiu estoirar os miolos em cheio a uma rapariga que estava a andar de skate.
E depois de tudo isto, acendo um cigarro e ouço, agora sim, uma versão original de Take 5, por John Coltrane e Dave Brubeck. E esqueço-me dos miolos espalhados pela praça, dos preservativos na cave, dos graffitis nojentos na base do prédio, dos pacotes de leite podre, da voz do detector de retina e do ranger de portas dos elevadores.
E a máquina traz-me um café mal tirado, enfim, não deixando de ser um café...
À entrada pico o cartão e olho para o detector de impressão ocular, um tanto obsoleto, tudo, já, e a máquina responde-me num tom mecânico e impessoal que posso subir, e que hoje posso descansar mais, não há nada de mais para fazer que não seja dobrar papéis e digitar uns textos e umas actas e umas circulares, verificar as acções e pouco mais que isso. O meu escritório é no oitavo andar, virado para a praceta onde os miúdos deitam fora os dias, olhando com raiva para nós e para os nossos fatos brancos e azuis e cremes e pretos e cinzentos e as nossas gravatas cremes e brancas e pretas e azuis e cinzentas e as nossas camisas brancas e cremes e azuis e cinzentas e pretas e os nossos sapatos pretos ou castanhos ou azuis ou cremes ou brancos ou cinzentos mas maioritariamente castanhos e pretos (pretos geralmente polidos e brilhantes). O prédio foi construído com vidros à prova de bala e há vestígios de tiros factuais maioritariamente no segundo e terceiro andares.
Apesar de tudo, o prédio é velho. Chamo o segundo elevador, de entre os dez disponíveis, e demora cerca de dois minutos a chegar, rangendo portas de aço inoxidável contra paredes de aço inoxidável forradas a uma coisa que parece lã. Das doze músicas possíveis, escolho a sétima, uma versão de uma coisa que parece vagamente Autumn Leaves, de Miles Davis e John Coltrane. A viagem demora por volta de quatro minutos. Quatro minutos dá para ouvir a música quase até ao fim. As portas apitam, invariavelmente "chegou ao seu andar. Obrigado, bom dia, até logo!", saio do elevador e atravesso o corredor, cumprimentando uns ou outros, ocasionalmente, pelo menos. Óscar 324 está na cozinha do andar, nu, com um blazer cinzento, um par de meias cinzentas e um avental plástico amarelo, de cozinha, a fritar qualquer coisa, com as nádegas sujas de farinha. Mariana 86 está sentada num banco, ao lado da mesa, nua, com um par de meias de lycra até à coxa, a fumar um cigarro. Ouço-os falarem de mim mas só de repente, e sigo ao longo do corredor. Dez escritórios, até ao meu. Ao longo do corredor, algumas faíscas inesperadas saltam dos aparelhos de segurança e do alarme de incêndios, embora nos garantam que tudo funciona na perfeição. As luzes funcionam perfeitamente, e há janelas q.b., para uma iluminação natural e reconfortante. Tomás 631 está no seu escritório, e entro para o cumprimentar. Em cima da secretária, um estojo aberto, e nas vitrinas ao longo das paredes armas diversas, rigorosamente aprumadas. A janela está aberta e ouço qualquer coisa abafada que se assemelha a gritos ténues. "Hoje está fraco. Só consegui sete, escapou-me agora um...", diz-me 631, apertando-me a mão, e colocando a caçadeira furtiva sobre a mesa. Olho pela janela e avisto quatro dos sete corpos espalhados ao longo da praça, e outro que foge, agarrado a uma perna, o mais rápido possível. Assim que 631 pega na arma novamente e ajeita o cabelo com a mão, ouço um som abafado e o corpo que fugia agarrado a uma perna fica-se por ali, ao pé de um caixote do lixo e de uma sebe. Não há ninguém para os vir buscar. Não sabemos se têm família, ou não. "É mais engraçado quando faço com as pistolas. Eles assustam-se mais, mas sabem que a precisão não é tanta. Com as caçadeiras normais, então, chego a arrancar membros a alguns, em dias mais felizes." As equipas do lixo, quando fecharmos as portas do prédio, tentarão levar os corpos que conseguirem ver, os outros acabarão por ser queimados. Só Tomás 631 chega a conseguir uma média de quinze ou dezasseis, por dia.
No meu escritório não há armas. Apenas uma secretária e um suporte fotográfico de hologramas, onde tenho digitalizações de fotografias de familiares e de locais que me reconfortam, como a luz que entra pelas janelas cuidadosamente colocadas por algum arquitecto sueco. O meu escritório é mais um gabinete que um escritório e não cheira a pinho nem a incenso nem a latex nem a exsodados vaginais nem a sémen nem a merda nem a sangue nem a sabão azul e branco, cheira apenas ao que cheirava quando vim trabalhar para aqui.
Fecho a porta antes de ouvir Óscar 324 a convidar Mariana 86 para mais uma queca na mesa da cozinha, e Tomás 631 grita, provavelmente ajeitando o cabelo, que conseguiu estoirar os miolos em cheio a uma rapariga que estava a andar de skate.
E depois de tudo isto, acendo um cigarro e ouço, agora sim, uma versão original de Take 5, por John Coltrane e Dave Brubeck. E esqueço-me dos miolos espalhados pela praça, dos preservativos na cave, dos graffitis nojentos na base do prédio, dos pacotes de leite podre, da voz do detector de retina e do ranger de portas dos elevadores.
E a máquina traz-me um café mal tirado, enfim, não deixando de ser um café...
domingo, dezembro 04, 2005
Classificados .3
perguntaram-me no átrio da Torre se queria uma revolução e eu ri-me sem vontade e balbuciei em mau Inglês
ai daun-te nâo uat-se gouingue one... ai ri ali daun-te eve a quelu
e depois (agora no dia seguinte) lembrei-me dessa pergunta sorridente
e de um rapaz a pedir dinheiro no Bairro Alto, a prometer que não bebia por princípio e religião, acabando a cantar mornas de Cabo Verde com uma imperial na mão e um maço de Marlboro no bolso;
lembrei-me do quanto detesto Marlboro
e do modo como um amigo me diz que peça a paz mundial e uma bica ou a harmonia entre os homens e um pastel de nata às senhoras da Esplanada que o tratam por Sr. Anjo e me tiram cafés curtos sem que eu os peça;
lembrei-me do café que parece uma tasca que parece um bar onde costumo estar à noite sem saber porquê
e do dono enorme, com cicatrizes na cara, furioso por não ter ido ao Coliseu ver Kusturika e que me pede que lhe traga cd's do Goran Bregovic, preferindo manter despesas incómodas a despedir pessoal
e todo este absurdo é confuso e é delicioso
e a cada dia me parece estar mais longe disto tudo por tudo ser tão confuso e absurdo e incrível e eu me achar alheio a um Segredo Comum que mantém estes sítios de pé
como uma raiz espantosa até ao centro do mundo.
quinta-feira, dezembro 01, 2005
quarta-feira, novembro 30, 2005
Leave it blank... just... leave it...
titi
não gosto da sua casa verde no meio dos prédios. não gosto do cheiro a coisas velhas na casa verde por entre os prédios. não gosto dos periquitos empoleirados nas gaiolas e do barulho dos carros em fundo, com o chilrear dos periquitos como que caganitas musicais de uma coisa mecânica. titi
não gosto dos armários de pinho e dos jogos de tabuleiro em cima dos armários de pinho e das pessoas que vão a sua casa e não gostam de jogar jogos de tabuleiro e no entanto jogam, algumas casas verdes e nem tantas casas vermelhas do monopólio perdidas, comidas talvez por algum gato no tempo em que ainda tinha gatos gordos geralmente amarelos para fazer pendant (ou seja lá o que for) com os cortinados verdes e pretos e pesados de veludo, onde as crianças se escondiam dos jogos de tabuleiro
jogos de sociedade
e dos seus seios enormes e feios a roçar pelas alcatifas e pelos rostos
titi
eu não gosto dos seus seios cheiram a mijo e a mofo, cheiram a coisas fechadas demasiado tempo dentro de caixas de madeiras reles, não gosto, são feios e não gosto que os imponha assim nas caras das pessoas demasiado sérias a jogar monopólio e jogo da glória, sem notarem que falta um dado ou um peão ou uma nota falsa
às vezes penso se os seios falsos ou não como as notas falsas do monopólio e os peões falsos seguros por mãos demasiado sérias e chapéus demasiado sérios e a titi demasiado alegre a distribuir seios enormes e feios e bolinhos de manteiga e chá e seios embebidos em chá ocasionalmente e mamilos e rodelinhas de bem-estar entrecortadas de olhinhos sorridentes e piscadelas de olhos a figuras de gatos desaparecidos nos cantos antigos por entre os verdes e os pretos de veludo em todo o lado, com o cheiro a velho de alguma coisa que ficou fechada dentro de caixas durante demasiado tempo.
titi
vá para o caralho mais a merda de tardes a jogar jogos de tabuleiro que eu odiava
jogos de tabuleiro não, filho, jogos de sociedade
jogos de sociedade demasiado entediantes com periquitos em fundo e gatos gordos que iam morrendo e seios impostos nas caras e nos tabuleiros dos jogos de sociedade, sempre demasiados amigos sérios a jogar jogos de tabuleiro e de sociedade.
não gosto da sua casa verde no meio dos prédios. não gosto do cheiro a coisas velhas na casa verde por entre os prédios. não gosto dos periquitos empoleirados nas gaiolas e do barulho dos carros em fundo, com o chilrear dos periquitos como que caganitas musicais de uma coisa mecânica. titi
não gosto dos armários de pinho e dos jogos de tabuleiro em cima dos armários de pinho e das pessoas que vão a sua casa e não gostam de jogar jogos de tabuleiro e no entanto jogam, algumas casas verdes e nem tantas casas vermelhas do monopólio perdidas, comidas talvez por algum gato no tempo em que ainda tinha gatos gordos geralmente amarelos para fazer pendant (ou seja lá o que for) com os cortinados verdes e pretos e pesados de veludo, onde as crianças se escondiam dos jogos de tabuleiro
jogos de sociedade
e dos seus seios enormes e feios a roçar pelas alcatifas e pelos rostos
titi
eu não gosto dos seus seios cheiram a mijo e a mofo, cheiram a coisas fechadas demasiado tempo dentro de caixas de madeiras reles, não gosto, são feios e não gosto que os imponha assim nas caras das pessoas demasiado sérias a jogar monopólio e jogo da glória, sem notarem que falta um dado ou um peão ou uma nota falsa
às vezes penso se os seios falsos ou não como as notas falsas do monopólio e os peões falsos seguros por mãos demasiado sérias e chapéus demasiado sérios e a titi demasiado alegre a distribuir seios enormes e feios e bolinhos de manteiga e chá e seios embebidos em chá ocasionalmente e mamilos e rodelinhas de bem-estar entrecortadas de olhinhos sorridentes e piscadelas de olhos a figuras de gatos desaparecidos nos cantos antigos por entre os verdes e os pretos de veludo em todo o lado, com o cheiro a velho de alguma coisa que ficou fechada dentro de caixas durante demasiado tempo.
titi
vá para o caralho mais a merda de tardes a jogar jogos de tabuleiro que eu odiava
jogos de tabuleiro não, filho, jogos de sociedade
jogos de sociedade demasiado entediantes com periquitos em fundo e gatos gordos que iam morrendo e seios impostos nas caras e nos tabuleiros dos jogos de sociedade, sempre demasiados amigos sérios a jogar jogos de tabuleiro e de sociedade.
sábado, novembro 26, 2005
sábado, novembro 19, 2005
quinta-feira, novembro 10, 2005
terça-feira, novembro 08, 2005
sábado, novembro 05, 2005
Como um fósforo
maquio sobre o rosto escurecido e ignoro a pele que o desenha
esqueço e refaço a massa ensanguentada
amo a pele alquimicamente nova e polida como couro novo
é uma sensação de penas a que me adormece no colo
esqueço e refaço a massa ensanguentada
amo a pele alquimicamente nova e polida como couro novo
é uma sensação de penas a que me adormece no colo
quinta-feira, novembro 03, 2005
Ele tinha, e isto é notável, uma maneira única de andar.
Cada milímetro de superfície da sola dos seus sapatos era totalmente aproveitado, calcado com força e firmeza contra o chão, lento e poderoso, cada passo seu, sem hesitar, sem tremer ou ceder, pudesse ser captado por câmeras, mini-câmeras a filmarem pormenorizadamente tudo o que se passava debaixo daquelas solas - Apocalipse. Com a sua dose de charme, obviamente. Hugo Boss, arriscaria eu.
Aparte disto, tinha um nariz demasiado agudo e era técnico de informática em Mem Martins.
Não sendo tão apelativo, Mem Martins tens espaços agradáveis. O seu nariz também.
Não deixa de ser digno de nota.
Ele andava com os pés nos chão, no sentido mais literal da expressão. Ele era os seus pés no chão, esses pés que, sem o próprio saber, provocavam desvios ligeiros nas placas tectónicas ao caminharem, pés esses que mantinham os seus 54 Kg longe do chão em dias de vento mais forte, Nor-Noroeste com tendência a virar para Norte ao fim da tarde, pés esses que seriam anos mais tarde o símbolo de um movimento anarquista da zona do Cacém
esmagando, calcando, ninguém nos pára!
gritariam ao tentarem tomar a Assembleia da República, pés esses que abrigavam, para o desconhecimento do mesmo, uma nova espécie de fungo que permitiria alcançar várias curas se examinado e trabalhado geneticamente em laboratórios ultra-equipados em Budapeste e Detroid, pés esses que o faziam caminhar de forma única, pés esses cujas unhas continham proteínas alteradas capazes de o alimentar durante meses a fio, pés esses que permitiam que ele se movesse e que estavam 80% do dia quietos, debaixo de uma secretária inundada de post-it's amarelos e fios e cabos e um computador e um telefone e uma agenda e uma caneta e uma caneca que o declarava
o maior
pés esses que, de noite, arrefeciam e se encolhiam.
Ele estava contente, obviamente, sem saber que o estava, por não saber de nada. Mem Martins tem muito trânsito e ser técnico de computadores dá ralações suficientes. Estava contente sem o saber, por poder sorrir descontraído e ver a K7 Pirata e documentários sobre ostras.
Estava contente. É só isso.
Os heróis estão todos mortos. O resto do mundo também.
quarta-feira, novembro 02, 2005
toy box
um sono de incêndios a contemplar o corpo
que sibila, inocente, na paz do cianeto.
intrínseco. o cigarro acabado de enrolar
à superfície dos lábios agrafados.
linhas cruzadas de uma dor que anoiteceu
perfeita.
que sibila, inocente, na paz do cianeto.
intrínseco. o cigarro acabado de enrolar
à superfície dos lábios agrafados.
linhas cruzadas de uma dor que anoiteceu
perfeita.
segunda-feira, outubro 31, 2005
(...)
houve um dia houve tudo.
agora, o corpo é somente corpo e carne e palavra que, invariavelmente, apodrecem, vulgares e medíocres.
como tudo, aliás, se um dia nada mais haja nas mãos que mãos segurando cigarros enquanto morrem como corpo e carne, sem palavras.
agora, apenas mãos sendo mãos e um corpo vulgar. palavras medíocres. sempre.
pouco mais que isso, disfarçado em brilhos.
a única verdade as lâminas.
houve um dia houve tudo.
agora, o corpo é somente corpo e carne e palavra que, invariavelmente, apodrecem, vulgares e medíocres.
como tudo, aliás, se um dia nada mais haja nas mãos que mãos segurando cigarros enquanto morrem como corpo e carne, sem palavras.
agora, apenas mãos sendo mãos e um corpo vulgar. palavras medíocres. sempre.
pouco mais que isso, disfarçado em brilhos.
a única verdade as lâminas.
sexta-feira, outubro 28, 2005
Das unhas, o que resta é um buraco, um buraco num sítio
onde o que era antes era Eu
mas agora já não, só um som vagamente sanguíneo
de quem pisou a tijoleira da sala e completou alguns
aniversários. Comi as unhas e algumas castanhas assadas
sabiam exactamente ao mesmo,
a mel e a amêndoas e a chocolate;
no lugar de mim existe agora apenas um buraco, e nesse centro
os frutos da noite são como maçãs ou gatos
que caem das árvores.
onde o que era antes era Eu
mas agora já não, só um som vagamente sanguíneo
de quem pisou a tijoleira da sala e completou alguns
aniversários. Comi as unhas e algumas castanhas assadas
sabiam exactamente ao mesmo,
a mel e a amêndoas e a chocolate;
no lugar de mim existe agora apenas um buraco, e nesse centro
os frutos da noite são como maçãs ou gatos
que caem das árvores.
quarta-feira, outubro 26, 2005
domingo, outubro 23, 2005
quinta-feira, outubro 20, 2005
todos estão acabados. contei os dias e extraí deles um número, o número que anunciaria o fim do tempo, não só o tempo enquanto o conhecemos, mas também o tempo das colheitas e das tardes perdidas em frente aos televisores. o número é indecifrável e indivizível, senão por si mesmo e pelo seu quadrado.
toda a gente morreu e os corpos caem ao longo da estrada, nos campos só os espantalhos se erguem ainda, permanências estranhas dos homens e das mulheres que vão desaparecendo lentamente. os corpos depois de mortos apodrecem, como é normal que aconteça.
tenho nas mãos um fio de nylon bastante comprido. sai-me dos dedos. entro nas cidades e faço o fio passar por dentro dos ossos e dos crâneos caídos pelo chão e arrasto um rebanho estranho de sombras e de misérias. cada animal que puxo tem em si o local onde os fogos começam e onde as mãos dos amantes se entrelaçam num revolver de sexos. cada olho vazio como um buraco sem fundo das caveiras vagas que batem nas pedras sabe a mar e a estrelas e seguimos o nosso caminho, eu, um pastor de sombras e de misérias e o meu rebanho de animais estranhos, úmeros e omoplatas e crâneos e rádios e fémures e falanges e afins
esqueletos que me saem dos dedos presos a mim por um fio de nylon, como papagaios térreos que perderam a capacaidade do céu, ou então
é a hipótese mais plausível
simplesmente não há vento, para que voem. percorremos
os campos e as serras e as estradas e gritamos imenso, gritamos ao deus os nomes de tudo o que encontrámos pelo caminho e o deus aponta-me o dedo e garante-me que hei-de provar as urzes das bermas e os cardos das giestas, e cada animal de sombra se assusta com a voz do deus, fechando assim os lábios, como se fossem páginas de um livro, de uma
bíblia.
toda a gente morreu e os corpos caem ao longo da estrada, nos campos só os espantalhos se erguem ainda, permanências estranhas dos homens e das mulheres que vão desaparecendo lentamente. os corpos depois de mortos apodrecem, como é normal que aconteça.
tenho nas mãos um fio de nylon bastante comprido. sai-me dos dedos. entro nas cidades e faço o fio passar por dentro dos ossos e dos crâneos caídos pelo chão e arrasto um rebanho estranho de sombras e de misérias. cada animal que puxo tem em si o local onde os fogos começam e onde as mãos dos amantes se entrelaçam num revolver de sexos. cada olho vazio como um buraco sem fundo das caveiras vagas que batem nas pedras sabe a mar e a estrelas e seguimos o nosso caminho, eu, um pastor de sombras e de misérias e o meu rebanho de animais estranhos, úmeros e omoplatas e crâneos e rádios e fémures e falanges e afins
esqueletos que me saem dos dedos presos a mim por um fio de nylon, como papagaios térreos que perderam a capacaidade do céu, ou então
é a hipótese mais plausível
simplesmente não há vento, para que voem. percorremos
os campos e as serras e as estradas e gritamos imenso, gritamos ao deus os nomes de tudo o que encontrámos pelo caminho e o deus aponta-me o dedo e garante-me que hei-de provar as urzes das bermas e os cardos das giestas, e cada animal de sombra se assusta com a voz do deus, fechando assim os lábios, como se fossem páginas de um livro, de uma
bíblia.
terça-feira, outubro 18, 2005
segunda-feira, outubro 17, 2005
sigo sempre
no éter dos dias
adormeço com violência
no meu corpo
na vacuidade cirúrgica da chuva
e no próprio uso da palavra
vacuidade
que me confunde.
dou-me conta das palavras que uso para não me reflectir demasiado
ou para desviar a atenção da minha voz
porque todo o reflexo é repetição
e mesmo estes axiomas polidos nada mais são do que
ecos
no éter dos dias.
aliás,
todo o reflexo é repetição
seria marcante não fosse o facto de ser algo que naturalmente diria
e, afinal, não fujo aos reflexos mesmo pensando que o faço.
nem sequer Poesia, mesmo pensando que o faço.
seria mais fácil fazer engolir estes versos agudos e ambíguos e orgulhosamente brilhantes a certos escolásticos que vibram e batem palminhas à
e a tudo o que se aproxime de algo como:
sei que me dariam palmadinhas nas costas e beijinhos na testa e perguntar-me-iam "para quando um livro", já que tão bem sei usar o léxico, referências filosóficas platónicasocráticasaristotélicas, conceitos-base-conceitos-tecto, "toda a Literatura é paraliteratura, metaliteratura, etc etc...", referir-se-iam a mim como "um jovem promissor" e surgiriam sorrisos discretos.
no fundo, seríamos todos felizes e rapidamente teria a primeira edição do meu livro de textos, nunca poemas pois seria humilde, nos escaparates e até, quem sabe, junto a um CD de uma banda underground mas "extremamente gabada e reconhecida no estrangeiro".
seria a cara de um movimento urbano intelectualizado, jovens no Metro a lerem o meu livro acenando que sim com a cabeça.
teria mil e um padrinhos, todos Exmos. Srs. e Exmas. Sras., todos calmos e compreensivos, todos professores de Português e críticos literários.
assim,
vacilo caio ergo-me
no Absurdo,
multiplicando por mil
todas as vozes da Caverna
contra o estupor e a languidez dos espíritos
pois uma voz contém em si o sémen da eternidade.
no éter dos dias
adormeço com violência
no meu corpo
na vacuidade cirúrgica da chuva
e no próprio uso da palavra
vacuidade
que me confunde.
dou-me conta das palavras que uso para não me reflectir demasiado
ou para desviar a atenção da minha voz
porque todo o reflexo é repetição
e mesmo estes axiomas polidos nada mais são do que
ecos
no éter dos dias.
aliás,
todo o reflexo é repetição
seria marcante não fosse o facto de ser algo que naturalmente diria
e, afinal, não fujo aos reflexos mesmo pensando que o faço.
nem sequer Poesia, mesmo pensando que o faço.
seria mais fácil fazer engolir estes versos agudos e ambíguos e orgulhosamente brilhantes a certos escolásticos que vibram e batem palminhas à
vacuidade
e a tudo o que se aproxime de algo como:
como o reflexo é repetição
sei que me dariam palmadinhas nas costas e beijinhos na testa e perguntar-me-iam "para quando um livro", já que tão bem sei usar o léxico, referências filosóficas platónicasocráticasaristotélicas, conceitos-base-conceitos-tecto, "toda a Literatura é paraliteratura, metaliteratura, etc etc...", referir-se-iam a mim como "um jovem promissor" e surgiriam sorrisos discretos.
no fundo, seríamos todos felizes e rapidamente teria a primeira edição do meu livro de textos, nunca poemas pois seria humilde, nos escaparates e até, quem sabe, junto a um CD de uma banda underground mas "extremamente gabada e reconhecida no estrangeiro".
seria a cara de um movimento urbano intelectualizado, jovens no Metro a lerem o meu livro acenando que sim com a cabeça.
teria mil e um padrinhos, todos Exmos. Srs. e Exmas. Sras., todos calmos e compreensivos, todos professores de Português e críticos literários.
assim,
vacilo caio ergo-me
no Absurdo,
multiplicando por mil
todas as vozes da Caverna
contra o estupor e a languidez dos espíritos
pois uma voz contém em si o sémen da eternidade.
domingo, outubro 16, 2005
uma avenida em cada dedo a percorrer largas alucinações
do fim da tarde que escorre imenso atrás de um corpo.
é com suavidade que se limpam as coisas mais banais,
bonecas de trapo anoitecidas sem musicalidade
as chávenas de café em torno dos sentimentos de perda.
vou sair e embebedar-me pela primeira vez dos teus livros
deitar a minha boca nos primeiros lábios de espuma.
começa a entristecer a cidade desfigurada junto ao rio,
quando acendo um cigarro nada se move dentro ou fora das aves.
duas luzes azuis comemoram o choque frontal,
sirenes de embalar a morte, a cabeça presa entre o metal e a raiva.
nunca estiveram os meus olhos tão doentes.
do fim da tarde que escorre imenso atrás de um corpo.
é com suavidade que se limpam as coisas mais banais,
bonecas de trapo anoitecidas sem musicalidade
as chávenas de café em torno dos sentimentos de perda.
vou sair e embebedar-me pela primeira vez dos teus livros
deitar a minha boca nos primeiros lábios de espuma.
começa a entristecer a cidade desfigurada junto ao rio,
quando acendo um cigarro nada se move dentro ou fora das aves.
duas luzes azuis comemoram o choque frontal,
sirenes de embalar a morte, a cabeça presa entre o metal e a raiva.
nunca estiveram os meus olhos tão doentes.
sábado, outubro 15, 2005
sexta-feira, outubro 14, 2005
quarta-feira, outubro 12, 2005
uma chuva que não te deixasse dormir
e era fácil, permanecermos inúteis
de encontro ao sofá, o corpo que verte
é o corpo que afoga os abismos de água.
com tendência à desolação, as mãos crispadas
no encontro das luzes. lá fora é a voz
que se acende nos beirais embaciados,
o lenço breve que te emagreceu o rosto
é a memória mais funda, a língua de éter
na letargia da bala.
terça-feira, outubro 11, 2005
rôo maçãs. rôo maçãs e olho o vapor do chá ou
melhor
da chávena de chá vazia ainda quente e é essa chávena
já vazia de chá que liberta um vapor contra o fundo escurecido da casa, quando anoitece. há livros diversos pela casa mas a maior parte desses mesmos livros está ainda embrulhada no plástico em que vinham quando os comprei. não compro livros para enfeitar as estantes. não compro livros porque me façam companhia. compro livros porque gosto de ler livros mas não tenho paciência para ler livros. assim, rôo maçãs e bebo chá e depois de ter bebido o chá sento-me em frente das estantes e reparo como o vapor da chávena quente contrasta com o fundo da sala escurecida, no fim da tarde, e penso na quantidade de livros que tenho, por ler, e que estão só ali como um porto seguro de qualquer coisa que permanece enquanto a paciência não vem e não pegue nalgum deles, para ler. se algum dia vier uma espécie de vontade, concluo a quantidade de plástico que terei que desembrulhar.
rôo maçãs e olho para o vapor da chávena de chá contra o frio da sala, a sala é escura, entendo, enquanto desembrulho uma maçã para ler, e penso se algum dia irá ser mais fácil ler um livro do que comer uma maçã, mas enquanto não for mais simples, rôo maçãs, porque é o tempo de roer maçãs.
as tardes assim são propícias a comer maçãs enquanto se bebe uma chávena vazia de chá.
melhor
da chávena de chá vazia ainda quente e é essa chávena
já vazia de chá que liberta um vapor contra o fundo escurecido da casa, quando anoitece. há livros diversos pela casa mas a maior parte desses mesmos livros está ainda embrulhada no plástico em que vinham quando os comprei. não compro livros para enfeitar as estantes. não compro livros porque me façam companhia. compro livros porque gosto de ler livros mas não tenho paciência para ler livros. assim, rôo maçãs e bebo chá e depois de ter bebido o chá sento-me em frente das estantes e reparo como o vapor da chávena quente contrasta com o fundo da sala escurecida, no fim da tarde, e penso na quantidade de livros que tenho, por ler, e que estão só ali como um porto seguro de qualquer coisa que permanece enquanto a paciência não vem e não pegue nalgum deles, para ler. se algum dia vier uma espécie de vontade, concluo a quantidade de plástico que terei que desembrulhar.
rôo maçãs e olho para o vapor da chávena de chá contra o frio da sala, a sala é escura, entendo, enquanto desembrulho uma maçã para ler, e penso se algum dia irá ser mais fácil ler um livro do que comer uma maçã, mas enquanto não for mais simples, rôo maçãs, porque é o tempo de roer maçãs.
as tardes assim são propícias a comer maçãs enquanto se bebe uma chávena vazia de chá.
segunda-feira, outubro 10, 2005
sábado, outubro 08, 2005
quinta-feira, outubro 06, 2005
a estrela aberta dá ao supermercado um ar desconsolado de solidão. a solidão entra pelas portas do carro e suja-me as mãos de óleo e entre esse óleo suja-me os cabelos de borracha. a estrela aberta não é uma estrela de luz mas sim uma estrela eléctrica que grita prenhe um certo desconsolo.
um certo colo sujo de sangue e de borracha dentro dos estofos dos sofás.
um certo colo sujo de sangue e de borracha dentro dos estofos dos sofás.
quarta-feira, outubro 05, 2005
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