quarta-feira, julho 05, 2006

Fogo Nº 8

Há o fogo, e sua ausência eu li nas cartas,
Há o retrato empoeirado sobre a mesa,
A cabeceira das coisas
Nunca é diferente do que eu pensei,
É tudo paciência, é prece, é jogo, eu sei,
Dói feito carne sob as unhas,
Que me atravessam fazendo surpresa,
Rasgando cartas,
Triturando as lembranças de sua letra desenhada,
Letra de mulher, oca e encarrilhada,
Amontoado de coisas.
É tudo um atropelo, um entalo, e nunca sai,
Então seu nome me embaraça enquanto cai,
É pestilência, beijo ardente, mãe e pai,
Cutículas e coisas de mulher.
Há um lugar no espaço onde a mulher se localiza,
Quem sabe uma carta perfumada me saiba ler.
Agora me extravasa, preguiçosa, a brisa,
Também raquéis, marias, lias,
Rondando os pés da mesa,
Passando feito foto, cortando feito carta,
Eu nunca lembro a oração que é certa,
É sempre diferente e eu não notei.
É tudo indiferença, é logro, é outra vez,
Deus ainda insiste em me aparar as unhas,
Pr’eu não arranhar o Filho por detrás da barba.
Eu sigo descascando minha pele até sangrar,
Sigo dormindo cedo, sentindo muito medo,
E quando chove, seu nome cai do céu...

10 comentários:

Anónimo disse...

O céu também chora de alegria em lindas manhãs de chuva... quando contamos os dias e as horas...

Cláudio B. Carlos disse...

Oi!
Muito bom!

Anónimo disse...

"Eu sigo descascando a minha pele sem sangrar":

Talvez à procura de um outro que em mim há. Belo blog, poesia sublime.

Anónimo disse...

Quem escreve assim a dor nua mostra a seus pares que não estão sós.

Edgar disse...

ola como faço para falar com CELSO BOAVENTURA ? ? ?
edgardjunior2@hotmail.com

david santos disse...

Adorei, Maria Rocha. Está lindo e sólido.
Obrigado
Até sempre: david-santos

Anónimo disse...

Muito bom!
O movimento vv5-10 está fantástico - aliás, como toda a música deste poema: mas, como leitor, é aí que me prendo.

um abraço, Hugo

Joanne disse...

Gostei imenso.
Um fantastica "ginastica" de palavras em movimentos bonitos.
Voltarei mais vezes.

Anónimo disse...

Muito bonito, muito bem feito, parabéns.

R disse...

Poemaço, Celso!!
Estou louco, ou lembro que que você tinha um blog só seu??

Abs,
REMO.