Reparo: digo coisas que não têm som. Digo coisas estranhas que se arrastam pelos limites
da casa, o que existe lá fora, já se sabe, é outra coisa, é estranho,
é frio ou quente, dependendo das estações do ano,
o ano move-se, lá fora, rodopiando espinhas de peixes e penas de aves
à janela, peixes beijando aves, comendo aves,
aves bebendo peixes, voando para longe com espinhas cravadas nos olhos.
Digo coisas: peixes, aves
e nessas coisas que digo não ponho sentimento algum,
sentido algum,
reparo nisso, na falta de uma coisa mais que já não há.
Reparo nos peixes ao lume, mortos, mas vivos de escamas e de espinhas e de olhos
sem luz sem qualquer láctea humidade de estrelas aquáticas.
Reparo no que digo e calo-me perante o absurdo das palavras.
Penso e reparo e digo coisas. Coisas estranhas.
Café. Entranhas.
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5 comentários:
Diz-me imensidões isto que acabei de ler.
Todos dizemos coisas estranhas... Ás vezes tb é estranho cm nos revemos em determinados escritos...Está muito bonito...
bjs* fica bem
muito bom isto!
ritmado e real...
não é um comentário, quero mesmo felicitar-vos:
parabéns pelas palavras,
parabéns pelo som,
parabéns pelo blog...
...sinceros parabéns porque é do melhor!
Nice.
Fica bem
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